Epilepsia

Como lidar com uma crise convulsiva?

Crises convulsivas são muito comuns e é importante conhecer características básicas


por Alan Cronemberger Andrade

 

Os primeiros socorros para as crises convulsivas


Olha, ver alguém tendo uma crise é algo impactante, principalmente se nunca vimos uma crise antes. Como essa é uma doença comum, é fundamental ter calma nesse momento e pedir ajuda. Conhecer os sinais e sintomas de uma convulsão pode nos ajudar bastante. Afinal, como socorrer alguém tendo uma convulsão ou uma crise?

Primeiro, é preciso saber algumas coisas. Sinais e sintomas comuns de uma convulsão incluem: enrijecimento do corpo, movimentos bruscos, perda de consciência, confusão mental, desorientação, olhares fixos, dificuldade para falar, ou sensações estranhas pelo corpo. Se você ou outra pessoa apresentar algum desses sintomas, é importante procurar atendimento médico. Saber reconhecê-las pode ajudar a garantir que você ou um ente querido receba a atenção que precisa o mais rápido possível.

Uma das primeiras medidas é tirar a pessoa de perigo, deixá-la no chão liso, e afastar de perto objetos perfurantes, cortantes e móveis. Não tente colocar a mão ou objetos na boca da pessoa, pois a mandíbula é bem forte e pode machucar. Você pode tentar colocá-la de lado para evitar aspirações, pois a posição evita que a língua obstrua a passagem do ar e também que a pessoa se engasgue.

Segundo o Manual da TelessaúdeRS para Epilepsia, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, estão entre as orientações para familiares e acompanhantes durante a crise: manter-se calmo, tentar proteger a pessoa em crise epilética, não imobilizar o paciente, não dar nada para a pessoa em crise epilética beber ou cheirar, não coloque nada dentro da boca do paciente e não segure a língua, ligar para SAMU 192 em casos que necessitam de avaliação emergencial, como crise que dura mais que 5 minutos ou paciente não apresenta recuperação completa da consciência.

Recomendações gerais para entrar em contato com o SAMU 192 e serviços de urgência


O site oficial do Ministério da Saúde (Brasil) recomenda entrar em contato com o SAMU 192 sempre que possível. O site do NHS, sistema de saúde do Reino Unido, recomenda chamar uma ambulância se alguém: (1) está tendo uma crise pela 1ª vez, (2) tem crise que dura mais de 5 min, tem crises uma após a outra, (3) se parece estar tendo problemas respiratórios, ou (4) se houve ferimentos graves. Em parte dos casos, se vê uma crise generalizada, a mais conhecida da população, pois envolve todo o cérebro e os sintomas incluem a inconsciência no momento da crise e contrações musculares fortes e bruscas.

Veja aqui vídeo explicativo criado por profissionais do SAMU 192. Nesta série de reportagens da EPTV sobre Primeiros Socorros uma equipe do NEP CISSUL SAMU ensina a socorrer vítimas que tem suspeita de crise convulsiva.

Como regra, a convulsão se deve geralmente a um quadro de epilepsia caso se repita por duas ou mais vezes. A doença é um problema neurológico que afeta pessoas de todas as idades. A estimativa da OMS é que 50 milhões de pessoas em todo o mundo tenham essa doença, e falar abertamente sobre ela é importante, já que é uma doença carregada de preconceitos. A crise acontece quando há uma falha nos impulsos elétricos do cérebro.

Embora não exista uma cura para epilepsia, muitas pessoas conseguem ter uma vida normal com o tratamento. Portanto, a boa notícia é que muito pode ser feito para reduzir o risco de recorrência de crises, como tomar os medicamentos prescritos pelo seu médico, se educar sobre mudanças no estilo de vida, e fazer os tratamentos adjuvantes em casos de fatores secundários. Com os devidos cuidados, muitas pessoas com epilepsia podem levar uma vida saudável e produtiva. 😊 

epi-2019-who-oms-epilepsia-seizure-convulsoes-eng-doc-2019.pdf

Documento informativo, em inglês, da Organização Mundial de Saúde sobre "Epilepsia e Crises", de 2019, disponível para download e consulta. © World Health Organization, 2019. Some rights reserved (Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 IGO licence) (CC BY-NC-SA 3.0 IGO).

Sobre a recorrência de crises e a definição de epilepsia


A epilepsia é uma doença neurológica que pode ser prevenida e controlada em até 70% dos pacientes, e é bastante comum. Muito embora pouco falada socialmente, a nossa chance ao longo da vida de desenvolver crises ou ter epilepsia é razoavelmente alta. O não tratamento é um risco à morte súbita e a traumatismos. As causas da epilepsia podem ser genéticas ou adquiridas. As causas adquiridas constituem a grande maioria e incluem: traumatismo craniano, lesões perinatais e infecções encefálicas, entre elas a neurocisticercose e o acidente vascular cerebral. Em alguns casos, a causa não é identificada. As crises epilépticas causadas por alteração transitória das atividades neuronais podem se manifestar de formas diferentes.

A forma mais comum é a convulsão. As outras crises, aqui agrupadas como não convulsivas, podem ter apresentações como: alteração sensorial (sentir cheiro, ver luzes), de percepção (sensação de ter visto, sentimento de medo) e comportamentais (ficar parado “ausente”, mexer as mãos sem um propósito). Essas crises não convulsivas são, muitas vezes, mais difíceis de serem diagnosticadas, exceto quando evoluem para uma convulsão, e muitas vezes precisarão de um neurologista para avaliar o caso. De forma geral, temos que:




Portanto, a convulsão, como é popularmente conhecida, costuma diferente de outras crises, por ser prontamente reconhecida: a pessoa costuma ter muitos sintomas motores e de consciência. Sua principal manifestação é descrita como enrijecimento do corpo (contrações musculares súbitas), causando perda de equilíbrio e queda ao solo, seguida de relaxamento e contração de grupos musculares, podendo ter ou não relaxamento dos esfíncteres vesical e intestinal. A convulsão é o tipo de crise mais associado ao estigma, à morbidade e à mortalidade.


Classificação das epilepsias de acordo com a CID-10


Em 2018 foi publicado como uma Portaria Conjunta, o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Epilepsia (PCDT), que dá algum regramento sobre as políticas sobre a doença no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Sobre a classificação clínica das crises, o documento traz que:


"A nova classificação das crises epilépticas manteve a separação entre crises epilépticas de manifestações clínicas iniciais focais ou generalizadas. Em geral, a Liga Internacional Contra a Epilepsia (ILAE), importante associação internacional promotora e disseminadora do conhecimento sobre esta doença, respeitou o mesmo esquema geral da classificação anterior, modificando alguns termos, por julgá-los mais adequados, flexíveis e transparentes. Assim, o termo “parcial” foi substituído por “focal”; a percepção (consciência) passou a ser utilizada como um classificador das crises focais; os termos “discognitivo”, “parcial simples”, “parcial complexa”, “psíquico” e “secundariamente generalizado”, da classificação anterior, foram eliminados; foram incluídos novos tipos de crises focais (automatismos, parada comportamental, hipercinética, autonômica, cognitiva e emocional); foi decidido que as crises atônicas, clônicas, espasmos epilépticos, mioclônicas e tônicas podem ter uma origem tanto focal como generalizada; crises secundariamente generalizadas foram substituídas por crises focais com evolução para crise tônico-clônica bilateral; foram incluídos novos tipos de crises generalizadas (mioclonias palpebrais, ausência mioclônica, mioclônico-atônica, e mioclônico-tônico-clônica)."


Quanto aos tipos para registro estatístico de de monitoramento, pode ser usada a CID. Atualmente mais usada, a CID-10 é a 10ª revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID), uma lista de classificação médica da Organização Mundial da Saúde (OMS), e contém códigos para doenças, sinais e sintomas, achados anormais, queixas, circunstâncias sociais e causas externas de lesões ou doenças. O trabalho no CID-10 começou em 1983, foi endossado Assembleia Mundial da Saúde em 1990, e foi usado pela primeira vez pelos estados membros em 1994. Foi introduzida no Brasil em 1996. Pela CID-10, a classificação das epilepsias tem sido:


G40.0 Epilepsia e síndromes epilépticas idiopáticas definidas por sua localização (focal) (parcial) com crises de início focal

G40.1 Epilepsia e síndromes epilépticas sintomáticas definidas por sua localização (focal) (parcial) com crises parciais simples

G40.2 Epilepsia e síndromes epilépticas sintomáticas definidas por sua localização (focal) (parcial) com crises parciais complexas

G40.3 Epilepsia e síndromes epilépticas generalizadas idiopáticas

G40.4 Outras epilepsias e síndromes epilépticas generalizadas

G40.5 Síndromes epilépticas especiais

G40.6 Crises de grande mal, não especificada (com ou sem pequeno mal)

G40.7 Pequeno mal não especificado, sem crises de grande mal

G40.8 Outras epilepsias


Essa classificação da CID-10 tem sido substituída e atualizada, oficialmente, pelo CID-11, desde 1º de janeiro de 2022. A CID-11 foi adotada na Assembleia Mundial da Saúde em maio de 2019. Os Estados Membros se comprometeram a começar a usá-la para relatórios de mortalidade e morbidade já a partir de 2022. Tradutores e grupos científicos recomendaram refinamentos adicionais para produzir a versão que hoje é disponível. Comparada com outras versões anteriores, a CID-11 é digital, tem novo formato e recursos que reduzem a chance de erro, incluindo os códigos para epilepsia. Você pode ler mais sobre as classifcações das epilepsias aqui.


Mensagem final


Em conclusão, as convulsões podem ser assustadoras e avassaladoras, e ter conhecimento sobre primeiros socorros para convulsões pode ser importante para agir com rapidez e segurança em caso de emergência. Conhecer a classificação das epilepsias, estar ciente da recorrência das crises e da definição de epilepsia pode ser útil para entender melhor a situação que você ou seu familiar está passando. Em qualquer caso, é sempre melhor entrar em contato com o SAMU 192 ou serviços de emergência sempre que uma convulsão for experimentada ou testemunhada.

É importante lembrar que as pessoas com epilepsia não estão sozinhas. Existem muitas redes de apoio disponíveis, tanto online como offline, que fornecem aconselhamento e apoio emocional. Algumas organizações conhecidas no Brasil são a Liga Brasileira de Epilepsia e a Associação Brasileira de Epilepsia, onde pacientes e familiares podem procurar e informações. Com a ajuda certa, e seguimento profissional, as pessoas afetadas pela epilepsia podem controlar sua condição e levar uma vida plena e significativa.

De forma sucinta, convulsões podem ser uma experiência assustadora, mas ter conhecimento e compreensão das causas, tratamentos e primeiros socorros pode ajudar em caso de emergência. Esperamos que este artigo tenha fornecido algumas informações sobre o assunto e que as orientações fornecidas o ajudem a agir com rapidez e segurança se uma convulsão for experimentada ou testemunhada. Não deixe de conversar com o seu médico e procurar um profissional de saúde sempre que tiver dúvidas e precisar de orientações.



Publicado em 21/01/2023 às 14:00h (UTC-3 BRT), e atualizado em 21/01/2023

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Imagens: Gilberto Firmino, BabyNatur